Nunca foi segredo.

Eu fiquei um bom tempo sem escrever aqui. Praticamente abandonei o blog – apesar de sempre acessar os blogs irmãos – que tenho ali do lado – e os primos. A verdade é que não houve muito o que comentar sobre os últimos meses. Decidi me candidatar a uma vaga do curso Farmácia. Estou confiante que este é o curso que deveria ter feito e espero que dessa vez eu acerte o alvo, pois o meu pente de balas já deve estar no fim.

Entrei no cursinho de novo, e desde então estou vivendo e deixando viver (até fiz amigos lá, vocês acreditam?). Estou muito tranquilo com relação ao vestibular. Descobri que a prova do ENEM não é um bicho de sete cabeças (fui muito bem no simulado que eu fiz), que ainda preservo grande parte do conhecimento que adquiri no E.M. e que a chance de eu conseguir passar é boa, uma vez que a concorrência do curso de Farmácia é quase desprezível.

Mas se está tudo assim tão “movimentado” na minha vida, porque eu voltei a escrever aqui? Pois bem, não houve horóscopo que me avisasse sobre os acontecimentos da última semana. Se houvesse, ele seria desnecessário – eu sempre soube que um dia isto aconteceria, só não sabia quando e como. Vamos começar pela história do professor de história. Parece ironia do destino, mas sabe a tirinha que eu coloquei no último post? Pois é, ocorreu comigo situação semelhante, a diferença é que a conversa não se deu entre duas pessoas, mas sim entre um aluno, um professor e uma sala de aproximadamente 100 pré-vestibulandos.

Percebi que naquele dia o professor de história, sempre bem humorado e piadista, estava com uma expressão soturna no rosto. Achei aquilo estranho. Talvez ele tivesse terminado com a namorada, um parente próximo morrido ou então o time dele perdido no jogo da noite passada. O mal “humor” dele já tinha me contagiado, pois em suas aulas eu tinha certeza do ânimo e das risadas. Eis então que ele começa a escrever no quadro e fica uns cinco minutos assim, sem trocar uma palavra com a turma. Quase todo mundo estava copiando. Dentre as exceções estava eu, que muito provavelmente deveria estar com os braços cruzados, prestando atenção (eu absorvo melhor os conteúdos assim). Talvez a distinção do meu comportamento chamou a atenção do professor.

Ele começa a “aula” me perguntando se eu torcia para o atlético ou para o cruzeiro. Eu, sem um pingo de maldade, respondi que era indiferente aos dois times. Justifico que na minha casa, o único fanático por futebol era meu avô e também que, nos últimos meses, o futebol mineiro não tinha sido motivo de muito orgulho. O questionamento óbvio que qualquer indivíduo brasileiro, na faixa dos 25~30 anos, heterossexual e com Q.I. menor que 100 faria a seguir era sobre a minha sexualidade, claro. E ele me manda: você gosta de homem ou de mulher?

[…]

DEVIA SER PROIBIDO FAZER ESSA PORRA DE PERGUNTA NUMA SALA DE AULA, CARALHO! By the way, SOU GAY e gosto de PÊNIS!

Queria eu que essa fosse a minha resposta. Mas não. Em situações como essa, de descontrole emocional inadvertido, eu sempre tenho que procurar o jeito mais “WTF?” de reagir. E respondo que “não queria entrar no mérito da questão”.

COMO ASSIM, FILHO DA PUTA?

Na hora não registrei a reação das pessoas na sala. Só conseguia perceber o quanto eu estava nervoso, suando como se aquele lugar fosse o deserto do Saara, e tentando passar a expressão de normalidade, apesar dessa não existir. Eu sabia que tinha exposto para todos naquela sala minha condição sexual, ainda que não usando as palavras exatas. Até aquele instante, eu era assumido só para amigos mais próximos e (talvez) alguns parentes. Depois desse dia, ficou escrito na pedra do firmamento: “E ele assume a homossexualidade para o mundo”. Foi um tiro no pé, uma auto-queimação de filme? Não sei. Só sei que contar uma mentira ali seria impossível para mim. Esse é um dos meus defeitos, não consigo falar mentira.

Perto de mim estava meu amigo, R., que estudou na mesma turma que eu no colégio e agora está mudando de curso junto comigo, e meus novos “colegas” – chamá-los de amigos, como fiz no início do texto é exagero – do cursinho. Ninguém falou nada, e por um bom tempo, o silêncio prevaleceu, até que o professor mudasse de assunto e contasse uma piada qualquer para descontrair a turma. Naquele mesmo dia eu ainda tentei conversar com esses meus colegas, mas nos dias seguintes eu vi que o tratamento deles para comigo, ainda que de forma discreta, mudou.

Acredito que eles se sentiram traídos, pois eu não tinha comentado com os mesmos a respeito da minha homossexualidade. Na quinta feira, como R. não tinha ido à aula, não conversei com ninguém tampouco alguém quis conversar comigo. Resultado: minha autoestima caiu uns anos-luz. Chegou a sexta feira e eu, macaco velho de crises depressivas, decidi mandar o mundo tomar no cu e fui para a aula animado. Não estava lá para depender da opinião das pessoas, mas sim para me preparar para o vestibular.

Acabou que no fim das contas, essa minha saída forçada do armário para a sala do cursinho foi uma experimentação do que muitos gays devem passar diariamente com a sociedade. Muitos já devem estar calejados da exposição gratuita, saem por aí com seus parceiros, tomam surra de lâmpada fluorescente na cara e levantam bandeiras do arco-íris no outro dia. Não fiquei tão abalado como achei que ia ficar, mas também não fiquei tão indiferente. Na minha vida, o sentimento de inadequação é um fator constante. Graças a ele, por mais “mente aberta e progressista” que eu aparente ser aqui no blog – e sou mesmo – ainda suo frio quando as pessoas voltam seus olhares para mim.

Teve ainda um outro acontecimento na mesma semana que balançou os planetas do meu mapa astral, mas fico devendo pra vocês essa história no próximo post.

Abraços!

(Senti saudades do blog e dos comentários).

5 Respostas

  1. in.Constante

    Um dia vou fazer igual ao Cara Comum!!! Acho o máximo quem responde assim, pq ainda levanta suspeita sobre o inquisidor hahaha

    Xêro!

    10 de outubro de 2011 às 20:52

  2. SG

    Oi, Thiago. Respondendo ao seu comment…

    Estou malhando sim, 4x por semana. Vou depois do trabalho. Tem dias que estou estafado, mas faço um esforcinho e vou. Tem também academia no meu prédio, então quando não quero sair de casa, malho no condomínio mesmo.

    Malhar cansa, mas vale muito a pena!

    Saudades de te ler!

    Abraço!

    10 de outubro de 2011 às 8:30

  3. SG

    Fico na saia justa (metaforicamente) constantemente, no trabalho.

    Tenho conseguido me safar, mas não sei até quando.

    9 de outubro de 2011 às 10:30

  4. Para engraçadinhos que perguntam apenas para ‘causar’, eu respondo:

    – O motivo da pergunta é só por fofoca ou está rolando algum interesse por mim??

    Não que eu tenha algum problema em responder que sou gay ou sou bissexual. Eu só não acho que esses “momentos revelação” tem razão de ser. Se, por algum motivo, eu aparentasse ser heterossexual, será que as pessoas perguntariam se eu sou hetero? Preguiça de ficar explicando minha intimidade pra quem não tem nada a ver, ainda mais em público, e entrar numa discussão que geralmente não leva a nada. Minha paciência pra esse tipo de situação é zero.

    Abraços!!

    5 de outubro de 2011 às 17:44

  5. Acho que um “não te interessa” bastava. Mesmo que ainda assim fosse denunciante, pelo ninguém ia encher mais o saco com isso.

    Pelo menos para mim, foi mais uma questão de costume. Hoje em dia respondo na maior naturalidade se perguntam, mas nem sempre foi assim.

    4 de outubro de 2011 às 13:56

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