Então… Fiquei devendo contar sobre o segundo evento que realinhou as órbitas dos planetas do meu mapa astral. Foi algo que, de alguma forma, eu sempre soube que aconteceria. Só não esperava que acontecesse. É sobre os meus:
Já devo ter comentado a respeito aqui ou no antigo blog sobre meus três grandes amigos que são quase irmãos: C., que é meu colega desde a 1ª série do fundamental, R., que se tornou meu amigo advindo da amizade que ele tinha com o C., e a G., que se tornou minha amiga e escudeira desde a 8ª série. Tenho outras amigas que considero do peito, claro. Entretanto, nós quatro éramos de tal maneira tão unidos, que ficamos conhecidos como “o quarteto” (quase fantástico).
Eis que sexta feira a noite, na mesma semana do fatídico evento do outing no cursinho, estávamos eu, C., R. e A. (que é uma amiga mais próxima dos dois) no carro. Voltávamos do cinema após ter assistido “Amizade Colorida”. Gostei do filme, saí teorizando e tagarelando sobre, mas com o tempo, fui notando que havia um clima meio estranho no ar. Eu não sabia, mas, o propósito daquela noite não era ver o filme. C. estava num misto de ansiedade, nervosismo e euforia que eu já mais tinha visto. R. e A. também apresentavam os mesmos sintomas, só que mais brandos. Entre trocas de olhares, mensagens de celular, risadas e pensamentos rolando na minha cabeça a mil por hora, perdi a paciência e pedi para que me contassem logo o que estava acontecendo. E contaram.
Ou melhor, contou. C. contou pra mim que era gay.
Tá, né? Ele já tinha contado para A. e R. e eu era o escolhido daquela noite. Vem então R. poucos segundos depois e também arreganha as portas do seu armário. HOW ASSIM, GOD? Fomos pra um outro lugar pra poder conversar melhor pois estávamos todos, completamente em estado de choque depois daquela.
No fundo, aquilo não era razão pra tanto big deal. Sempre desconfiei um pouco do C. – na verdade eu e a torcida do Flamengo. Creio que não era só dele que desconfiavam, deviam desconfiar de mim e do R. desde o princípio também. As razões eram óbvias: por sermos mais “mente aberta” com relação a milhares de coisas, por termos certos gostos um tanto quanto diversificados, por gostarmos de um humor um pouco mais ácido do que o convencional, por andarmos sempre em grupo, por sempre sobrarmos na escalação dos times de futebol da E.F., dentre outros pequenos clichês que – apesar de eu não gostar de admitir isso (porque não acho que devemos ser generalistas e preconceituosos) – entregavam que havia “algo de diferentchy” conosco.
Por muitos tempo esse assunto da homossexualidade foi meio que um tabu entre nós três. Não a homossexualidade alheia, mas sim a nossa, escondida e trancafiada a sete chaves. Os dois se descobriram juntos, tiveram as primeiras experiências juntos e confessaram suas crises e angústias um para o outro esse tempo todo. Teve um inesquecível dia em que fomos ao sítio do R. (quando estávamos no 2º ano do E.M.) e eu peguei os dois no pulo do gato. Eles juraram pra mim de pés juntos que aquilo era só carência, que nunca tinha acontecido e nem nunca mais iria acontecer. E eu fui proibido de tocar no assunto. Até recentemente, assim foi. Eu sofri por muito tempo calado, tentando negar os sinais que eu via graças ao meu gaydar super calibrado.
Se tem uma coisa pela qual eu me arrependeria caso tivesse me matado naquela fatídica noite de junho de 2010, seria de não ter vivido esse dia em Outubro de 2011. Isso é a comprovação do “It Gets Better”. Eu jamais poderia imaginar que meus dois amigos finalmente se abririam pra mim, que um dia eu poderia deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz com a minha consciência. Eu nunca fui louco, não tinha visto coisas ou criado teorias da conspiração da minha cabeça. Não havia mais nada de oculto. De agora em diante, teríamos todo um repertório de assuntos os quais eu poderíamos conversar abertamente sem se preocupar com repercussões.
R., o famoso capricorniano sobre o qual já escrevi aqui, nunca vi mais leonino dada a clareza, a sinceridade e exaltação com a qual conversava. Contou histórias que eu jamais esperei que saíssem de sua boca. Eu pude ver que em diversos momentos no passado ele quis ter sido sincero comigo, me “confessando” suas aventuras ainda que com nomes de pessoas e lugares trocados. E como eu fui bobo de pensar que meus dois melhores amigos só queriam me enganar. Se é que algum dia eu exigi que as pessoas fossem estritamente sinceras comigo, esse dia já passou e eu já me esqueci dele.
Minha autoestima subiu o Monte Everest naquela noite. Senti pela primeira vez na vida que eles – principalmente R., que sempre jogou às escuras comigo – estavam confiando 100% em mim. Ver as coisas por essa perspectiva me deu ânimo e coragem. Alguns dias depois nós fomos juntos numa buatchy gê-eli-esse (eu, virgem desse tipo de ambiente) e vi os dois pegando outros carinhas (me diverti muito, mas infelizmente continuo no zero a zero). Compartilhamos nosso vasto conhecimento a respeito de Bel Ami, Men at Play, Randy Blue, Sean Cody, algo que só um legítimo bando de viados poderia fazer.
Agora eu entendo tanta coisa que eu não entendia antes… Percebi que nosso grupo ainda é o mesmo, apesar de agora o contexto ser diferente. A depressão pela qual eu passei foi muito forte, muito intensa, foi (está sendo) difícil sair dela. Mas percebi que a mesma coisa também é válida para o o estado de espírito oposto. Me sinto mais confiante agora pra entrar na parte do “It Doesn’t Get Better”, que diz respeito aos meus problemas mais profundos – como por exemplo ir na buatchy e não me permitir ficar com ninguém. Mas isso são cenas dos próximos capítulos (?).
Essa música sintetiza o momento.
Hugs to everyone, that’s all for tonight.